Sobre sair sorrindo mesmo após uma tragédia
Felicidade — Estoicismo — Schopenhauer — Budismo — Narrativas
A nossa felicidade só depende de nós.
Essa pode ser uma frase bonitinha que soa como clichê e se parece muito com aquelas frases chamativas de livros de autoajuda, eu sei. Mas quando olhamos para boa parte do que a filosofia estoica nos ensina, ela se torna uma verdade poderosa.
A forma como encaramos os eventos de nossas vidas é o que vai determinar nossos sentimentos com relação a eles (felicidade, tristeza, raiva, amor, gratidão).
Os nossos julgamentos (opiniões) sobre esses eventos vão determinar isso. A narrativa que contamos a nós mesmos sobre como as coisas acontecem em nossa vida.
Isso é puro estoicismo. Epíteto disse algo nesse sentido:
“Não são as coisas que nos incomodam. Mas nosso julgamento sobre essas coisas.” (Epicteto)
Mas vamos deixar o estoicismo um pouco de lado e nos voltar para outro filósofo: Arthur Schopenhauer.
Será que dá pra falar sobre felicidade usando o pai do pessimismo como referência? Vamos ver.
Para Schopenhauer, o homem nunca é feliz, pois ele nunca se sente completamente saciado. Ou seja, temos desejos e mais desejos que quando nos saciamos sobre eles, logo surgem novos desejos ou então somos dominados pelo tédio que reativa os desejos novamente.
“Nós queremos, queremos e queremos. Para cada desejo consciente, há dez aguardando no inconsciente. A vontade não cessa de nos dirigir, pois, assim que um desejo é alcançado, há outro e mais outro pela vida afora.” (A cura de Schopenhauer, Irvin Yalom)
Bem no estilo Schopenhauer de pensar: tragédia pouca é bobagem. Para ele, caso nós conseguíssemos saciar todos os nossos desejos, sofreríamos de um tédio insuportável a ponto de nos matarmos.
“Trabalho, preocupação, cansaço, problemas… É o que enfrentamos quase a vida inteira. Mas, se todos os desejos fossem satisfeitos de imediato, com o que as pessoas se ocupariam e como passariam o tempo? Suponhamos que a raça humana fosse transferida para Utopia, lugar onde tudo cresce sem precisar ser plantado e os pombos voam assados ao ponto, onde todo homem encontra sua amada na hora e não tem dificuldade em continuar com ela: as pessoas então morreriam de tédio, se enforcariam, se estrangulariam ou se matariam, e assim sofreriam mais do que já sofrem por natureza.” (Arthur Schopenhauer).
Melhor ser infeliz por não conseguir saciar nossos desejos ou é melhor o tédio depois de nos saciarmos completamente? É uma questão intrigante, se observarmos as coisas por essa ótica.
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